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Trabalho em Dupla ( Conto - Parte 2 )

Após falar com ele, relutante, decidimos que iríamos fazer o trabalho em sua casa. Tomei um banho e coloquei uma roupa simples, me dirigindo à casa que visitei por tantos anos e que conheci tão bem, mas que agora não passava de uma novidade.

Ele veio abrir a porta. Os cabelos molhados e o mesmo cheio de hortelã que me fazia querer abraçá-lo constantemente. Balancei a cabeça para expulsar esses pensamentos aleatórios e entrei na casa, notando uma enorme diferença. A casa, que antes era bastante alegre estava mais vazia. Vários móveis tinham sido retirados, a pequena Claire, irmã de Peter correu para me abraçar. Eu costumava passar tempos brincando com ela quando vinha pra cá.

- Minha pequena, como está?

- Muito bem, Nattie. E você?

- Se você está bem, também estou.

Ela riu e me abraçou de novo. Peguei-a no colo e Peter sorriu.

- Por que não veio mais aqui? - Ela perguntou, com os olhos meio marejados. Aquilo apertou meu coração. Tive vontade de dizer que era tudo culpa de Peter, mas resolvi mentir.

- Não tive mais tempo, meu amor. A escola está me matando.

Ela me abraçou de novo.

- Então comece a vir de novo.

Olhei para Peter que olhava pro chão, meio desconfortável e eu tinha de admitir que sentia o mesmo.

- Olha, querida, vou pensar ok? - Disse, beijando sua bochecha. - Agora tenho um trabalho pra terminar com seu irmão chato aqui.

- Quer dizer o Bob?

Meus olhos se dirigiram à Peter, assustada e ele se assustou também. Quando éramos melhores, eu o chamava de Bob pois sua risada me lembrava a do Bob Esponja. Sorri com a lembrança, meio perdida.

- Sim, o Bob.

Ela sorriu e subimos para o quarto dele. Eu estava bastante tensa afinal fazia tempos que não frequentava o quarto dele. Sentei na escrivaninha e logo me assustei com a foto que vi. Éramos nós dois, pequenos sorrindo. Eu tinha essa foto, guardada em um canto da gaveta, mas ele tinha ali em um porta-retrato na escrivaninha. Olhei-o com raiva e desviei para o livro de História a minha frente.

- Colocou isso aqui hoje? - Disse, friamente.

- Tenho essa foto desde que éramos melhores amigos. Ainda guardo aqui, pra relembrar os momentos bons que eu passei ao seu lado.

Estremeci e continuei a olhar o livro de História.

- Não acho que foram momentos bons já que você não hesitou em me expulsar da sua vida tão rapidamente.

Olhei pra ele e ele virou o rosto.

- Tive problemas, Natalie.

- Problemas que não podem ser discutidos nem com a melhor amiga?

Ele negou.

- Eu tive vergonha.

- De que?

- De te perder.

- Acabou me perdendo de qualquer jeito.

- Exatamente e me arrependo disso todos os dias.

Ele olhou pra mim, seus olhos brilharam quando se encontraram com os meus e eu estava maio paralisada. A verdade é que eu sentia a falta dele tão fortemente que chegava a ser uma angústia ter que vê-lo todos os dias sem ao menos dar Bom dia.

- Meus pais... Meu pai sempre está bêbado, desde a perda do emprego milionário. Ficamos sem dinheiro, ele não presta pra nada e minha mãe chora o tempo todo. Eu estou cuidando da Claire no comecinho da manhã, por isso sempre chego atrasado.

Meus olhos marejaram e eu apertei suas mãos nas minhas. Não resisti e abracei-o fortemente, fazendo com que ele chorasse copiosamente.

- Eu nunca esqueci você. Nunca. Me desculpa, mas tive vergonha de tudo.

- Eu nunca deixaria você por isso. - Disse, já chorando também.

E ficamos assim, abraçados por um bom tempo. Depois, resolvi recuperar o tempo perdido. Jogamos video-games como nos velhos tempos e fizemos tudo que nã fazíamos há quase dois anos. Quando fui embora, Claire me abraçou novamente.

- E aí? Vai continuar vindo aqui? - Ela disse, e coloquei-a no colo.

- Não se preocupe, pequena. Não vão faltar motivos para eu vir aqui. - Olhei para Peter e ele sorriu. - Pelo menos, não mais.

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