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Defeito de Fábrica






Nunca fui o tipo de garota perfeita. Aquelas com longos cílios, um corpo esbelto e vários garotos a seus pés. Não, longe disso. Sempre fui aquela desajeitadinha de óculos, inteligente e que ama livros. Aquela que o cupido passa perto, mas desvia e grita "Olé.". Aquela que sempre foi tida como defeito de fábrica, no meio de tantos robôs perfeitos prontos pra impressionar. Aquela que, apesar de ter a língua culta como prioridade, usa gírias quando quer. Aquela que não se importa com o que os outros vão pensar ou deixar de pensar. Aquela que sempre teve corações partidos e que aprendeu com cada um deles. A que prometeu fechar o coração, e que se diz forte o bastante e realista até demais. Mas, na verdade, espera todos os dias pelo cara que irá valer a pena, aquele que trará de volta os pedaços de seu coração que foram levados pelo tempo.

[ Conto ] Tristes olhos verdes. ( Parte 3 )

Alguns dias se passaram desde que vi Miles pela primeira vez. Os olhos verdes marcados pelas decepções ainda povoavam meus pensamentos. Apesar de 90% do meu tempo ainda ser dedicado a tentar esquecer Kyle e todas as suas idiotices, Miles ainda conseguia desviar um pouco minha atenção. Os 10% que restavam eram dele. Depois de toda aquela estória completamente maluca de nos encontrarmos com corações partidos por causa de uma chuva ( Não, eu não acredito em coincidências, mas meu Deus! ), trocamos os números e prometemos telefonar um ao outro de vez em quando. Desde então, não paramos de nos falar.

Descobri que ele trabalha em uma lanchonete, meio período para ajudar a mãe em casa. Ele me disse que seu pai morreu, quando ele ainda era muito pequeno e agora que já podia trabalhar, sentia-se no dever de ajudar sua mãe no que fosse preciso. Adorei a atitude. Tinha uma irmã menor chamada Mellanie, e a amava muito.

Ele também perguntava coisas sobre mim, mas sempre fui muito fechada. Dizia uma coisa ou outra mas preferia ouví-lo. Nunca fui fã de confissões ou coisas do tipo. Minha vida era minha, e se quisessem saber mais sobre mim, tinham que descobrir. Confiança é uma coisa muito fácil de se quebrar e segredos são os primeiros alvos de uma possível vingança. Sei que posso parecer meio neurótica com relação a isso, mas já me decepcionei muito com tudo isso e sei por experiência próprio que segredos são feitos para serem guardados.

***

Era fim de tarde e eu resolvi fazer uma surpresa pra Miles. Ele tinha falado o endereço da lanchonete onde trabalhava pra mim e eu resolvi que estava na hora de vê-lo novamente. Torcendo para ver alegria novamente naqueles olhos verdes. Peguei um casaco, pois estava razoavvelmente frio naquela tarde e comecei a andar pelo bairro, com um pequeno papel na mão que dizia o endereço da lanchonete de Miles.

O vento frio que batia em meu rosto, fazia com que eu mantivesse minha mente limpa de pensamentos e eu gostava disso. O som que o vento fazia, tirava a minha atenção e eu fechei os olhos, instantaneamente. E aí, do prazer veio a dor. Um baque surdo fez com que eu me desequilibrasse e caísse fortemente no chão gelado. Meus olhos pareciam se recusar a abrir, ou se estivessem abertos se recusavam a formar imagens. Uma paisagem escura, alguns sons, dentre eles : vozes de pessoas, alguns gritos e eu tentava dizer alguma coisa mas minha boca não queria abrir. Quando tentei falar, senti um forte gosto de sangue na boca e percebi que minha cabeça latejava. Depois do que me pareceram infinitos minutos, consegui abrir lentamente os olhos, a única coisa que consegui ver foi um par de olhos verdes, não tristes nem alegres mas desesperados.

- Ashley? Ashley, você está ouvindo?

Queria dizer que sim, mas me deixei levar pelo sono que me levava embora. E eu pensei que era o fim.

***

Abri um olhos e avistei um local estranho. Eu estava em uma cama pequena e desconhecida. Tinha cheiro de amaciante barato e por mais que não parecesse, era muito bom. Tentei fechar os olhos e abrí-los novamente para ver se eu não estava sonhando mas quando os abri novamente, vi as mesmas coisas nos exatos lugares onde estavam antes e eu percebi que realmente estava em um local diferente.

- Ah, graças a Deus você acordou. - Uma voz rouca me tirou de meus devaneios. E apesar de conhecê-lo apenas há alguns dias, eu reconheceria essa voz em qualquer lugar do mundo. Mesmo que ele estivesse falando Japonês com um monte de biscoitos na boca. ( Mentira, eu não entenderia. E eu exagerei na metáfora, desculpe. )

- Miles... Como você está?

Ele riu e passou a mão delicadamente em meu rosto.

- Sua louca. Como eu estou? Eu que deveria perguntar isso.

Franzi a testa.

- Seria meio estranho. Afinal, você deve saber como está se sentindo.

Ele revirou os olhos e começou a mexer em meus cabelos.

- Você está se sentindo bem?

Assinto mas quando tento sentar na cama, sinto que meu corpo inteiro dói e caio para trás com tudo.

- Aaaaaaai! - Exclamo, sentindo a dor profundamente.

- Pelo amor de Deus, Ashley. Nem internada você se aquieta?

Foi aí que percebi que eu estava em um hospital. Miles estava sentado em uma poltrona ao meu lado.

- O que aconteceu para eu vir parar aqui?

Ele franziu a testa.

- Não se lembra?

Neguei.

- Você foi atropelada em frente à lanchonete onde trabalho. Você não faz ideia do quanto eu fiquei preocupado sua maluca. Algumas pessoas disseram que vocês estava andando de olhos fechados. Tem noção do quanto isso é perigoso? E se eu não estivesse lá? E se você tivesse morrido? Eu sei, eu não deveria estar tão louco, mas...

Dei um beijo em sua bochecha e ele calou a boca instantaneamente, ficando vermelho logo em seguida. Era tão fofo.

- Obrigada por ficar aqui. Obrigada mesmo.

Ele sorriu, coçando a nuca.

- Você é minha CPCP esqueceu?

Sorri ao perceber que nossa primeiro piada interna já tinha sido criada.

- Qual a probabilidade de se perder os CPCP depois de alguns dias de conhecê-lo? - Perguntei, usando uma expressão pensativa.

Ele riu.

- Não sei... Qual a probabilidade de se ter uma CPCP linda e que me faz sorrir direto?

Sorri instantaneamente.

- 100% com certeza, meu caro.

[ Conto ] Tristes olhos verdes. ( Parte 2 )

Voltei com mais um copo de chocolate-mais-do-que-quente e entreguei-a a Miles novamente. Ele tomou um gole e tomou fôlego, começando finalmente a estória que eu ansiava ouvir.

- Tudo começou há uns meses atrás. Conheci Vicky na festa de Charlie, o capitão do time de futebol. Sei que vai parecer clichê e você pode não acreditar nessas baboseiras idiotas de amor à primeira vista, mas acho que foi meio isso que aconteceu. Quando vi Vicky dançando, e apesar de nunca ter visto muitas garotas em muitas festas ( já que eu não conheço muitas garotas e também não vou a muitas festas ), achei ela a garota mais espetacular do mundo. Os cabelos loiros caíam em castata pelos ombros e o sorriso. Ah, o sorriso era o mais lindo e branco e esplendoroso que eu já tinha visto. - Ele dizia isso com tanta admiração que eu sabia no que isso ia dar. Apesar dos primeiros suspiros de paixão, o amor tende a nos deixar sem ar no fim das contas. - Ela parecia incrível. E eu acho esse lance de parecer uma puta idiotice. Sempre falamos que alguém "parece" isso, alguém "parece" aquilo, e quando vamos ver quebramos a cara. Então parece que o verbo "parecer" é uma droga.

Ri com aquela tese e todo o ódio com a palavra "parecer", mas acabei concordando.

- Enfim, tomei coragem e comecei a falar com ela. Passamos a nos falar periodicamente no Facebook à noite. E eu achava isso o máximo, mas quando eu disse para nos encontrarmos na escola de verdade, ela recuou. Disse que era melhor não, pois ia destruir a "magia dos nossos encontros online". Mesmo sem querer muito, aceitei mas resolvi fazer uma surpresinha pra ela. Apareceria perto dela no colégio e diria tudo o que tinha sentido nesses meses que passamos conversando. Comprei as flores e fui, decidido a contar tudo. Mas, ao invés do beijo e um " Eu também te amo. ", recebi uma traição. A verdade era que Vicky não queria que fôssemos vistos juntos porque estava na verdade junto com Charlie. E eu poderia me enganar e dizer que aquilo não tinha acontecido. Mas eu VI. Eu vi, Ashley. Eu...

Corri e acabei não me contendo. Abracei-o fortemente. As lágrimas dele caíam em meu casaco e eu nem ligava. Eu só queria tirar um pouco da tristeza que ele vinha trazendo. A chuva continuava a cair lá fora, enquanto ele soluçava e eu o apertava mais ainda, tentando sufocar a dor dele. Daí lembrei de Kyle e das porcarias que ele tinha feito. E comecei a chorar também. O que era uma droga pois eu estava tentando consolá-lo mas eu também precisava de consolo. Liguei o "foda-se" e o abracei mais, e ele fez o mesmo. Apesar de sermos praticamente desconhecidos, uma coisa nos unia. A dor. E isso era uma droga.

Depois de um tempo chorando e apenas se abraçando, nos desvenciliamos. Os rostos vermelhos de tanto chorar e as camisas molhadas de lágrimas. Mas isso foi estranhamente bom.

- Acho - Ele disse - Que devíamos ter um ACP.

Franzi a testa e o olhei, intrigada.

- ACP? E o que seria isso?

- Alerta de coração partido. Sabe, pra evitar as dores e talz.

Achei engraçado e pela primeira vez há alguns meses eu ri verdadeiramente.

- Não temos o ACP. Mas temos o CPCP.

Agora foi a vez dele de franzir a testa. Inclinou a cabeça e ficou me olhando, esperando minha explicação.

- Consolador Pós Coração Perdido. E acho que você é o meu e eu sou o seu CPCP.

Ele começou a rir. Tanto que deixou a cabeça tombar pra trás e colocou a mão na barriga. Depois de o que me pareceu a eternidade, ele olhou pra mim, seriamente. Se aproximou e tirou a caneca de chocolate quente de minha mão. Olhou bem fundo nos meus olhos.

- Então eu sou muito sortudo por ter uma CPCP tão linda.

E pela primeira vez vi alegria naqueles olhos verdes.

[ Conto ] Tristes olhos verdes. ( Parte 1 )

Era uma tarde de sábado. Tudo estava ligeiramente tedioso e quando digo ligeiramente tedioso, digo MUITO tedioso. Estava um pouco frio, o que era estranho nessa época e eu estava zapeando pelos canais idiotas da TV. Propagandas, novelas sem um pingo de realidade, mídia sensacionalista, mais propagandas e um pseudo programa de comédia. Suspirei. Olhei pro meu celular pela milésima vez no mesmo dia, procurando uma mensagem de Kyle. Infelizmente, nada.
Percebi o quanto o odiava, não por causa das idiotices ou burradas ( que foram muitas, aliás ) mas porque percebi que enquanto gastava meu tempo considerando-o meu plano A, ele me jogava pra escanteio. Eu era só o plano B. E ele nem imaginava o quanto isso machucava. Apesar da minha vontade de esquecê-lo e dos meus esforços constantes pra isso, a ideia de esquecimento parecia não ser aceita pelo meu coração.

" Download de esquecimento de Kyle... >> 89% ... 90% ... 99% ... Desculpe, mas não podemos continuar. Download falhou e você, continue com o coração partido. "

Estava absorta em meio de meus pensamentos nada silenciosos quando percebi que uma chuva forte começou a cair. Corri para fechar a janela mas antes de fazê-lo percebi um garoto lá fora. Parecia da minha idade, talvez um ano mais velho. Usava óculos grandes e se abraçava para proteger o corpo do frio repentino e da chuva. Fiquei com pena e uma vontade grande de trazê-lo para cá. Mas sempre escutei meus pais dizendo : " Nada de abrir portas pra estranhos, nem que eles sejam fofos e estejam com frio. " Mentira, essa última parte eles não disseram mas você entendeu.

Apesar do frio e da água que entrava da janela, eu não conseguia fechá-la. Observei o garoto uma última vez e um ímpeto me fez gritar. Tapei a boca mas já era tarde demais. Ele olhou para trás, totalmente perdido. Nossos olhares se cruzaram e eu cocei a nuca.

- Não quer vir aqui? - Gritei.

- Está falando comigo? - Perguntou ele, ainda tentando se aquecer.

Corri pra porta e o chamei. Ele ficou meio receoso, mas veio correndo. Quando entrou, percebi que segurava algumas flores. Olhei pra elas e ele olhou pro chão, envergonhado.

- Tudo bem... - Eu disse, fechando a porta. - Antes de mais nada, como é seu nome?

Ele  tirou os óculos, muito molhados e percebi que seus olhos eram verdes. Os cabelos estavam bagunçados e um sorriso brotou em seus lábios.

- Miles. Prazer. - Ele disse, estendendo a mão pra mim.

Sorri e peguei sua mão. Fria e quase congelando. Percebi que ele tremia. Me xinguei por não ter percebido isso antes e corri para pegar uma toalha pra ele. Ele a pegou, tímido e colocou em volta do corpo.

- Não me disse qual é o seu nome ainda.

- Ah, desculpe. Meu nome é Ashley.

Ele sorriu.

- Prazer Ashley-que-deixou-um-estranho-entrar-mesmo-sem-saber-se-ele-é-perigoso.

Eu ri.

- Prazer Miles-que-tenho-certeza-que-não-é-perigoso-por-isso-deixei-entrar.

Ele riu também. E ficamos em silêncio por um tempo. A chuva lá fora caía cada vez mais forte e até eu já estava ficando com frio. Frio na verdade não era a palavra ideal, eu estava mesmo era congelando. Pedi que Miles sentasse em uma cadeira enquanto eu pegava um casaco pra mim e ele sentou.

Não sei o porquê, mas eu estava estranhamente nervosa. Não um nervosismo doentio do tipo que ficamos quando vamos receber um resultado de uma prova importante, mas um nervosismo bom, tipo quando estamos numa montanha-russa ou algo do tipo.

- Então, Miles. Qual o seu sobrenome?

- Grace. Miles Grace.

- Seu sobrenome é uma graça.

- Rárá. Muito bom.*

Rimos e começamos a entrar naquele silêncio estranho novamente. Odiava ficar em silêncio. Sempre é constrangedor. Sempre.

- Então... Eu vou pegar chocolate quente pra mim. Você quer?

Ele esfregou as mãos e olhou pro chão. A timidez dele me fazia querer abraçá-lo e só por um momento, parei de pensar em Kyle.

- Se não for incomodar.

- Não, com certeza não vai.

Ele sorriu em agradecimento e eu sorri também, entrando na cozinha, pegando dois copos e colocando o líquido fumegante neles dois. Voltei para a sala e vi que Miles tinha se levantado. Ele estava observando uma foto. A minha e a de Kyle.

Droga, droga, droga!

- É seu namorado? - Ele perguntou, pegando o copo de minhas mãos.

- Era.

- Ah. - Ele disse, ficando ligeiramente vermelho. - Desculpe, eu não sabia que...

- Tudo bem. - Eu disse, pegando a fotografia e olhando-a. - Eu não sei porque ainda guardo essa foto.

- O que aconteceu?

Sentei no sofá ainda olhando pra foto. Sorri lembrando dos bons momentos. Aliás, só agora descobri, que esses bons momentos nãos tinham sido nossos eles tinham sido só meus. Não tinha sido correspondido como pensei. Era tudo farsa.

- Eu o tratei bem demais pra depois perceber que ele nem sequer cogitava a ideia de realmente me valorizar. Resumindo : Pra mim, ele era o plano A. Pra ele, eu era o plano B.

Ele assentiu e olhou pro chão.

- Minha vida amorosa também não é das melhores, se isso te serve de consolo. - Ele disse, olhando pras rosas molhadas que ele havia deixado em cima da mesa.

- O que aconteceu? - Imitei-o.

- Longa estória.

Olhei pra chuva forte que ainda caía lá fora e olhei pra ele. Os olhos verdes tão bonitos pareciam carregar alguma coisa forte. Uma expressão de tristeza. Era isso. E por mais que eu não o conhecesse tão bem, fiquei com uma vontade enorme de desvendar seus segredos e saber o que realmente tinha acontecido e quem tinha partido o coração de alguém que parecia ser tão legal.

- Estou disposta a ouvir. - Disse.

Ele sorriu e ergueu o copo seco que antes estava cheio de chocolate quente.

- Só se tiver mais chocolate quente.

Sorri.




* Grace significa graça em Inglês.

[ Especial de Natal ] O elevador

Natal é e sempre foi minha data favorita. Todos felizes, compartilhando de um sentimento muito bom e agradecendo a Deus por tudo. Aquele dia não seria diferente dos outros e já começou bem. Decidi que acordaria cedinho e começar a preparar a ceia, aliás chamei toda a minha família pra cá.

Desde que eu me formei, tento cozinhar e sempre acaba sendo uma catástrofe, mas nesse natal prometi que iria fazer a melhor ceia de todas e chamei todo mundo. Só espero que não aconteça mais uma catástrofe como as que já aconteceram.

O sol estava batendo em minha janela e já eram mais ou menos 8 da manhã, mas a minha preguiça e minha vontade de ficar na cama o dia todo eram enormes. Eu trabalhava para um jornal e ontem foi dia de escrever muito. Textos sobre o natal, fotos para editar e tudo o mais. Resumindo : Eu estava acabada. E mesmo que tudo que eu quisesse fosse ficar na cama, lembrei de minha decisão e acordei para preparar tudo.

Fiz minha higiene matinal e desci, olhando o celular para ver se tinha alguma mensagem ou alguma chamada perdida mas com certeza todos estavam bastante ocupados pois meus celular estava exatamente da mesma maneira que a última vez que o vi.

Peguei as chaves do apartamento e me dirigi ao elevador. Iria a um supermercado para comprar algumas coisas que estavam faltando. Abri a porta do elevador com um sorriso no rosto, com vontade de espalhar a alegria do natal para todos, mas a pessoa que vi fez com que eu fechasse a cara logo que entrei.

- Ora ora se não é Hayley Smith.

Revirei os olhos e entrei. Era só Matt Harris, o idiota do meu vizinho. Éramos amigos no passado, mas ele me machucou muito e alguns machucados não cicatrizam.

- Não vai me desejar um " Feliz Natal " , Hay?

Olhei fixamente pra frente e fingi que não o escutei. Aquele idiota não merecia nada, só meu silêncio.

- Então não vai mesmo falar nada?

A minha vontade era despejar tudo que ele já tinha feito comigo. Tudo. Mas felizmente, o elevador apitou e saí porta afora.

Fui rapidamente ao supermercado e comprei tudo que precisava. Voltei correndo para que desse tempo de colocar tudo no forno antes do meio dia e dei de cara com Matt no elevador novamente. Isso só podia ser brincadeira.

- Tá me seguindo, Hay?

Revirei os olhos e entrei suspirando. Ele também entrou e ficamos em silêncio por um tempo. Eu odiava elevadores. Isso era fato. Por isso, já ficava nervosa do nada. Estávamos calados, e senti que ele ia falar alguma coisa, mas quando o fez, o elevador começou a balançar e as luzes se apagaram. Gritei e caí sentada no chão.

- Hayley? Hayley você tá bem? - Matt perguntou.

Eu não conseguia responder. Chorava copiosamente e tremia.

- Hay! - Ele disse, gritando e tateando ao meu redor. Senti sua mão tocar a minha e pela primeira vez agradeci por estar escuro e ele não ver que eu tinha corado. - Lembra daquela vez que ficamos presos? Lembra, Hay?

Eu apenas apertei sua mão. Incapaz de dizer uma única palavra. Odiava elevadores, desde que ficamos presos em um, quando estávamos no Ensino Médio.

- Você confia em mim?

Eu queria dizer que não. Negar com todas as minhas forças mas apesar dos machucados eu o amei muito, aliás ainda amo. Alguns amores, mesmo que adormecidos, não são esquecidos totalmente.

Apertei sua mão novamente e ele sorriu.

- Então vem cá. Vai ficar tudo bem.

Ele me pegou em seus braços e começou a afagar meus cabelos. Fechei os olhos tentando ignorar aquela situação. A verdade é que a minha saudade pelos carinhos dele falou mais alto e eu o abracei fortemente.

- Eu senti muito sua falta. - Ele disse, ainda afagando meus cabelos. - Eu ia dizer pra você. Ia dizer que tinha ganhado o intercâmbio e que ia estudar fora mas eu sabia que você ia sofrer e que uma despedida doiria muito mais. Eu tentei evitar sua dor sabe? Por isso resolvi me separar de você aos poucos. Primeiro não atendi seus telefonemas, não respondi suas mensagens e acredite aquilo doeu muito.

Respirei fundo e tentei assimilar aquilo tudo. Fechei os olhos com força e deixei que finalmente algumas palavras saíssem de minha boca.

- Pois você estava errado. Eu senti tanto a sua falta. Dos seus abraços, dos seus beijos, da sua presença. Eu senti falta de você comigo, dos seus carinhos e da sua mania de falar gírias o tempo todo. Senti falta dos telefonemas e das mensagens e pensei que tinha me esquecido, que tinha esquecido do nosso amor.

- Eu sinto muito por tudo.

- Eu também.

As luzes por fim se acenderam e eu corei. Ainda estávamos abraçados e ele me abraçou mais ainda, com medo de que eu fugisse. Mal sabia ele que aquele era o único lugar onde eu queria estar.

[ Especial de Natal ] A magia do Natal.

Natal é realmente uma data fantástica. Amigos, família, tudo maravilhoso... A menos que você esteja presa em um ônibus por conta de um engarrafamento gigantesco. Além disso, o ônibus está simplesmente lotado. Seguro o pacote com algumas coisas que comprei para a ceia de natal contra o corpo e espero que nada caia.

Respiro fundo e vejo que uma pessoa se levanta e deixa o assento ao meu lado. Rapidamente, um homem senta do meu lado, segurando um pacote igualzinho ao meu.

Olho de relance pra ele e reviro os olhos, percebendo que o rapaz que está ao meu lado é simplesmente o cara que mais odeio. Patrick Johnson, meu vizinho de apartamento.

- Hey Kat! Não tinha visto você aí. - Ele diz, sorrindo.

Reviro os olhos mais uma vez.

- Poderia me chamar de invisível. Seria melhor que isso.

Ele começa a rir e finalmente o ônibus anda mais um pouco.

- Escuta, onde vai passar o natal?

- Não interessa, cara.

- Pra mim, interessa.

- Há alguns segundos atrás você me chamou de invisível.

- Não, você que disse isso. Eu só disse que não tinha te visto aí.

- Dá no mesmo. - Dei de ombros.

Ele começa a olhar para frente, me deixando sozinha com meus pensamentos. Era bom aproveitar o silêncio, mas ás vezes precisamos de palavras mesmo que elas não venham como queremos.

- Olha, eu não sei o porquê desse seu ódio, mas...

- Não lembra então? - Disse, olhando fixamente pra ele.

Ele coçou a nuca e confirmou.

- Lembro. E sinto muito mas...

- Preferiu os populares do que a mim.

- Não foi isso, eu só...

- Tudo bem. - Disse, dando de ombros e virando pra frente novamente. A verdade é que aquilo ia acabar não levando a nada, assim como todas as conversas que tivemos depois da rejeição dele.

Aconteceu no Ensino Médio. Éramos ligados demais e por vezes eu achava que éramos um só sabe? Gostos parecidos, frases feitas, gestos só nossos e tudo mais mas aí ele simplesmente se afastou depois de arranjar uma namorada qualquer e mudar totalmente. Depois disso, entrei na Faculdade e quando me mudei, qual não foi minha surpresa ao perceber que ele seria meu vizinho. Desde que me viu, ele tenta resgatar nossa amizade, mas eu simplesmente não quero voltar atrás. Não é orgulho, é só receio de dar errado como deu da primeira vez. Receio de ser passada pra trás novamente, de quebrar o coração mais uma vez.

- Eu quero deixar claro que não esqueci você. Eu era imaturo demais, idiota demais pra perceber o quanto você estava sofrendo. No fim das contas, o que mais sofreu fui eu. Com um grande pé na bunda e sem o colo da minha melhor amiga.

Virei para olhá-lo e o ônibus deu uma guinada, fazendo com que eu fosse para a frente e ficássemos cara a cara. Meu coração começou a bater e a vontade de abraçá-lo era tão grande que não suportei e o fiz.

Vários anos longe e agora tão perto. Talvez o natal fosse pra isso mesmo. A magia nos contagia e nos leva a lugares que nunca imaginaríamos estar e é isso que faz essa data tão especial. A surpresa.

{ Especial de Natal - Informativo }

Heeeeey lindos e lindas que acompanham meu blog! Aqui é a Nai que vos fala ( avá! ). Enfim, estou contagiada pelo espírito do Natal. Sempre amei essa data e sua magia por isso, achei bastante digno quando meu querido irmão ( Não é que ele me deu uma ideia maravilhosa? Valeu, chato <3 ) me deu essa ideia de fazer um Especial de Natal. Esse Especial consiste no seguinte : Nessa semana toda, irei postar um conto de Natal escrito por mim, como todos os outros textos ( Será que hoje eu só estou falando o óbvio? ¬¬' ). Enfim, cada dia da semana, vai haver um texto com essa temática natalina que eu tanto amo. Espero que vocês também gostem e se inspirem nessa época tão maravilhosa.


Feliz Natal, aproveitem os textos!


                                                                                                                                  Nai.
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