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[ Especial de Natal ] O elevador

Natal é e sempre foi minha data favorita. Todos felizes, compartilhando de um sentimento muito bom e agradecendo a Deus por tudo. Aquele dia não seria diferente dos outros e já começou bem. Decidi que acordaria cedinho e começar a preparar a ceia, aliás chamei toda a minha família pra cá.

Desde que eu me formei, tento cozinhar e sempre acaba sendo uma catástrofe, mas nesse natal prometi que iria fazer a melhor ceia de todas e chamei todo mundo. Só espero que não aconteça mais uma catástrofe como as que já aconteceram.

O sol estava batendo em minha janela e já eram mais ou menos 8 da manhã, mas a minha preguiça e minha vontade de ficar na cama o dia todo eram enormes. Eu trabalhava para um jornal e ontem foi dia de escrever muito. Textos sobre o natal, fotos para editar e tudo o mais. Resumindo : Eu estava acabada. E mesmo que tudo que eu quisesse fosse ficar na cama, lembrei de minha decisão e acordei para preparar tudo.

Fiz minha higiene matinal e desci, olhando o celular para ver se tinha alguma mensagem ou alguma chamada perdida mas com certeza todos estavam bastante ocupados pois meus celular estava exatamente da mesma maneira que a última vez que o vi.

Peguei as chaves do apartamento e me dirigi ao elevador. Iria a um supermercado para comprar algumas coisas que estavam faltando. Abri a porta do elevador com um sorriso no rosto, com vontade de espalhar a alegria do natal para todos, mas a pessoa que vi fez com que eu fechasse a cara logo que entrei.

- Ora ora se não é Hayley Smith.

Revirei os olhos e entrei. Era só Matt Harris, o idiota do meu vizinho. Éramos amigos no passado, mas ele me machucou muito e alguns machucados não cicatrizam.

- Não vai me desejar um " Feliz Natal " , Hay?

Olhei fixamente pra frente e fingi que não o escutei. Aquele idiota não merecia nada, só meu silêncio.

- Então não vai mesmo falar nada?

A minha vontade era despejar tudo que ele já tinha feito comigo. Tudo. Mas felizmente, o elevador apitou e saí porta afora.

Fui rapidamente ao supermercado e comprei tudo que precisava. Voltei correndo para que desse tempo de colocar tudo no forno antes do meio dia e dei de cara com Matt no elevador novamente. Isso só podia ser brincadeira.

- Tá me seguindo, Hay?

Revirei os olhos e entrei suspirando. Ele também entrou e ficamos em silêncio por um tempo. Eu odiava elevadores. Isso era fato. Por isso, já ficava nervosa do nada. Estávamos calados, e senti que ele ia falar alguma coisa, mas quando o fez, o elevador começou a balançar e as luzes se apagaram. Gritei e caí sentada no chão.

- Hayley? Hayley você tá bem? - Matt perguntou.

Eu não conseguia responder. Chorava copiosamente e tremia.

- Hay! - Ele disse, gritando e tateando ao meu redor. Senti sua mão tocar a minha e pela primeira vez agradeci por estar escuro e ele não ver que eu tinha corado. - Lembra daquela vez que ficamos presos? Lembra, Hay?

Eu apenas apertei sua mão. Incapaz de dizer uma única palavra. Odiava elevadores, desde que ficamos presos em um, quando estávamos no Ensino Médio.

- Você confia em mim?

Eu queria dizer que não. Negar com todas as minhas forças mas apesar dos machucados eu o amei muito, aliás ainda amo. Alguns amores, mesmo que adormecidos, não são esquecidos totalmente.

Apertei sua mão novamente e ele sorriu.

- Então vem cá. Vai ficar tudo bem.

Ele me pegou em seus braços e começou a afagar meus cabelos. Fechei os olhos tentando ignorar aquela situação. A verdade é que a minha saudade pelos carinhos dele falou mais alto e eu o abracei fortemente.

- Eu senti muito sua falta. - Ele disse, ainda afagando meus cabelos. - Eu ia dizer pra você. Ia dizer que tinha ganhado o intercâmbio e que ia estudar fora mas eu sabia que você ia sofrer e que uma despedida doiria muito mais. Eu tentei evitar sua dor sabe? Por isso resolvi me separar de você aos poucos. Primeiro não atendi seus telefonemas, não respondi suas mensagens e acredite aquilo doeu muito.

Respirei fundo e tentei assimilar aquilo tudo. Fechei os olhos com força e deixei que finalmente algumas palavras saíssem de minha boca.

- Pois você estava errado. Eu senti tanto a sua falta. Dos seus abraços, dos seus beijos, da sua presença. Eu senti falta de você comigo, dos seus carinhos e da sua mania de falar gírias o tempo todo. Senti falta dos telefonemas e das mensagens e pensei que tinha me esquecido, que tinha esquecido do nosso amor.

- Eu sinto muito por tudo.

- Eu também.

As luzes por fim se acenderam e eu corei. Ainda estávamos abraçados e ele me abraçou mais ainda, com medo de que eu fugisse. Mal sabia ele que aquele era o único lugar onde eu queria estar.

4 comentários

  1. Eu. Quero. Continuação. Já. Ficou muito bom! Lindo. Perfeito. Obra dos unicórnios mágicos que só fazem o bem.

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