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Nosso terrível talvez ( Conto )

Estava levando umas caixas para a casa nova. Era dia de mudança e isso nunca era bom. Porém, naquele dia eu tinha achado uma coisa interessante. Eram cartas dele. Apesar do que tinha acontecido, eu sorri e lembrei do dia em que o revi.

Era um dia claro. As pessoas iam e vinham, apressadas e as batidas dos pés no chão pareciam ritmadas. Eu andava rapidamente para tentar chegar ao trabalho. Corri quando vi que o metrô tinha acabado de sair e xinguei baixinho, quando vi que não estava sozinha.

Um rapaz estava ao meu lado. Olhei pra ele, mas logo desviei. Era sempre assim, eu nunca conseguia segurar um olhar por muito tempo. Peguei o copo de café que estava em minhas mãos e levei o conteúdo garganta abaixo. Ele desceu quente, o que me fez ficar um pouco mais calma.

O rapaz continuava a me olhar e eu resolvi olhar também. Quando o vi, quase derramei o café todo no chão. Os mesmos olhos azuis, o mesmo cabelo bagunçado. Era ele, só podia ser.

- Eu sabia que era você. - Ele disse, rindo pra mim.

- Como sabia?

- Nenhuma garota toma um copo de café desse tamanho, se não for você.

- Você voltou, por que não me disse nada?

- Pensei que tivesse esquecido de mim... Pensei que tivesse esquecido da gente.

Ele tinha sido o primeiro amor de muitos. Depois dele, minha vida amorosa tinha sido um verdadeiro desastre, com direito a manobras perigosas e centenas de pedaços arrancados do meu coração. Mas a verdade é que eu já tinha me machucado tanto, que não queria mais isso pra mim. Na melhor parte de tudo, ele foi embora e me deixou sozinha, sem explicação e agora volta e quer tudo de novo? Simplesmente não há volta para algumas situações.

- Na verdade, esqueci. - Respondi, olhando fundo para ele.

- Pois eu não parei de pensar em você.

- Poupe-me de suas palavras, por favor. - Disse, com as mãos tremendo, e as lágrimas ameaçavam jorrar de meus olhos. - Você não avisou que ia embora... E depois,você ignorou tudo. Mensagens, e-mails, cartas, telefonemas...

- Eu não podia iludir você enquanto estava longe. A distância nos muda. Você sabe disso.

- Ela nunca me mudou. - Disse, limpando as lágrimas insistentes.

Nessa hora, o meu transporte chegou. Subi e sentei em uma das cadeiras da frente. Ele ficou lá, parado com a cabeça baixa. Talvez estivesse pensando no que poderia ter sido. E eu também pensava nisso. A única diferença é que eu pensava nisso todos os dias. Ele, com certeza só tinha lembrado naquele momento. Ás vezes, deixamos a felicidade passar por nossos olhos e não a percebemos. E eu sempre pensei nisso. Se eu usasse uma palavra pra nos definir com certeza seria Talvez. Talvez tudo tivesse dado certo, talvez estivéssemos feliz agora, talvez...

Hoje, eu não sei onde ele está. Se está casado, bem ou se ainda vive pensando no nosso talvez. Nosso terrível talvez.

2 comentários

  1. Ai, nao tenho palavras para definir seus textos, então tenho que ficar repetindo que está perfeito.
    Nai mexe com meus sentimentos :(
    Sua fã número 1

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    Respostas
    1. Aninha vou mencionar você nos agradecimentos dos meus livros. Obrigada por sempre vir aqui e comentar tão bem. Obrigada mesmo, fã número 1 *-*

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