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[ Conto ] Tristes olhos verdes. ( Parte 2 )

Voltei com mais um copo de chocolate-mais-do-que-quente e entreguei-a a Miles novamente. Ele tomou um gole e tomou fôlego, começando finalmente a estória que eu ansiava ouvir.

- Tudo começou há uns meses atrás. Conheci Vicky na festa de Charlie, o capitão do time de futebol. Sei que vai parecer clichê e você pode não acreditar nessas baboseiras idiotas de amor à primeira vista, mas acho que foi meio isso que aconteceu. Quando vi Vicky dançando, e apesar de nunca ter visto muitas garotas em muitas festas ( já que eu não conheço muitas garotas e também não vou a muitas festas ), achei ela a garota mais espetacular do mundo. Os cabelos loiros caíam em castata pelos ombros e o sorriso. Ah, o sorriso era o mais lindo e branco e esplendoroso que eu já tinha visto. - Ele dizia isso com tanta admiração que eu sabia no que isso ia dar. Apesar dos primeiros suspiros de paixão, o amor tende a nos deixar sem ar no fim das contas. - Ela parecia incrível. E eu acho esse lance de parecer uma puta idiotice. Sempre falamos que alguém "parece" isso, alguém "parece" aquilo, e quando vamos ver quebramos a cara. Então parece que o verbo "parecer" é uma droga.

Ri com aquela tese e todo o ódio com a palavra "parecer", mas acabei concordando.

- Enfim, tomei coragem e comecei a falar com ela. Passamos a nos falar periodicamente no Facebook à noite. E eu achava isso o máximo, mas quando eu disse para nos encontrarmos na escola de verdade, ela recuou. Disse que era melhor não, pois ia destruir a "magia dos nossos encontros online". Mesmo sem querer muito, aceitei mas resolvi fazer uma surpresinha pra ela. Apareceria perto dela no colégio e diria tudo o que tinha sentido nesses meses que passamos conversando. Comprei as flores e fui, decidido a contar tudo. Mas, ao invés do beijo e um " Eu também te amo. ", recebi uma traição. A verdade era que Vicky não queria que fôssemos vistos juntos porque estava na verdade junto com Charlie. E eu poderia me enganar e dizer que aquilo não tinha acontecido. Mas eu VI. Eu vi, Ashley. Eu...

Corri e acabei não me contendo. Abracei-o fortemente. As lágrimas dele caíam em meu casaco e eu nem ligava. Eu só queria tirar um pouco da tristeza que ele vinha trazendo. A chuva continuava a cair lá fora, enquanto ele soluçava e eu o apertava mais ainda, tentando sufocar a dor dele. Daí lembrei de Kyle e das porcarias que ele tinha feito. E comecei a chorar também. O que era uma droga pois eu estava tentando consolá-lo mas eu também precisava de consolo. Liguei o "foda-se" e o abracei mais, e ele fez o mesmo. Apesar de sermos praticamente desconhecidos, uma coisa nos unia. A dor. E isso era uma droga.

Depois de um tempo chorando e apenas se abraçando, nos desvenciliamos. Os rostos vermelhos de tanto chorar e as camisas molhadas de lágrimas. Mas isso foi estranhamente bom.

- Acho - Ele disse - Que devíamos ter um ACP.

Franzi a testa e o olhei, intrigada.

- ACP? E o que seria isso?

- Alerta de coração partido. Sabe, pra evitar as dores e talz.

Achei engraçado e pela primeira vez há alguns meses eu ri verdadeiramente.

- Não temos o ACP. Mas temos o CPCP.

Agora foi a vez dele de franzir a testa. Inclinou a cabeça e ficou me olhando, esperando minha explicação.

- Consolador Pós Coração Perdido. E acho que você é o meu e eu sou o seu CPCP.

Ele começou a rir. Tanto que deixou a cabeça tombar pra trás e colocou a mão na barriga. Depois de o que me pareceu a eternidade, ele olhou pra mim, seriamente. Se aproximou e tirou a caneca de chocolate quente de minha mão. Olhou bem fundo nos meus olhos.

- Então eu sou muito sortudo por ter uma CPCP tão linda.

E pela primeira vez vi alegria naqueles olhos verdes.

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