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A carta ( Conto )

O colar. Vestido vermelho. Batom da mesma cor. Sapato alto. Estava pronta. O espelho revelava uma alegria quase que imensurável. Ela iria vê-lo hoje. O baile mais esperado da cidade era hoje e toda a cidade estaria lá, era impossível ele também não estar. Ela tinha refletido sobre todas as burradas que tinha feito ultimamente. Tinha mentido pra ele, partido seu coração tão terrivelmente que ela sabia, ele sangrava por dentro. Agora não sabia como ele estaria depois de alguns anos.

Estaria ele com o mesmo sorriso que dava pra ela há alguns anos? Estaria ele mais velho, sem que as gírias tão conhecidas fizessem parte de seu vocabulário? Estaria ele feliz ou ainda sangrava?

Com o coração apertado, e a mente povoada por várias dúvidas, ela adentrou o salão de festas, já tão cheio. A festa foi ofertada por um rapaz amigo de seu pai, que por sinal era bastante influente na região. Já ele, era um simples rapaz que trabalhava como garçom às vezes e aceitava qualquer bico. O emprego era pequeno e ele não tinha muita renda, mas o seu coração. Ah, o seu coração era o maior da região.

Ela varreu o salão com os olhos pela décima vez. Seu pai a repreendia com os olhos do outro lado do salão. Ele sabia que ela iria procurá-lo. Ela deu de ombros e continuou sua busca angustiante.

E foi com um brilho nos olhos que o encontrou. Continuava o mesmo. Os olhos castanhos brilhantes, o sorriso perfeito e alegre e a maneira de gesticular enquanto fala rápido demais. Mesmo com a multidão a impedindo de andar rápido demais, ela correu. Os olhos ansiando por vê-lo mais de perto. Parou em frente à ele. O mesmo a olhou, primeiro com uma surpresa bastante visível no olhar. Depois, para sua tristeza, o desprezo pintou os olhos castanhos do rapaz à sua frente. Ela tentou falar, mas percebeu uma coisa que partiu seu coração. Uma moça estava com ela. Alta, bonita e sorridente. Pediu para que ele fosse dançar com ela e ele assentiu, deixando uma garota despedaçada na frente dele.

Ela enxugou os olhos já cheios de lágrimas, pegou papel e caneta e subiu para um quarto qualquer. Junto com as lágrimas, as palavras manchavam o papel em branco.

" Hey, acabamos de nos ver. Sim, eu sei que estou errada em procurá-lo após tantos anos, mas alguns erros são irreparáveis. Sei que você sofreu, que você chorou por dentro por anos, calado e agora sei o tamanho da dor que você estava sentindo.

Espero que você seja mais feliz com ela, que ela te traga todos os sorrisos que eu roubei de você, que ela te dê os melhores anos de sua vida.
Eu me apaixonei por você e odeio ter que esconder isso. Odeio fingir que não tenho ciúmes de você. Odeio ter que sorrir falsamente e dizer que tudo está bem. Odeio ter que reprimir minha vontade de te sentir mais perto. E odeio mais ainda minha falta de coragem.

Então, mais uma vez tenho que dizer : Seja feliz, mesmo que sem mim. Espero que seu coração já tenha cicatrizado. O meu ainda vai levar um tempo. Agradeço por tudo. Peço desculpas por minhas burradas.

 

Com o coração sangrando,

Eu. "

 

Por causa de sua falta de coragem que ela mesma disse que odiava, a carta mencionada nunca foi entregue.

11 comentários

  1. Já posso parar de chorar?? Meu Deus, que perfeito!!

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  2. Isa, sua fofa, para de chorar kkkkkkkk Que bom que gostou ^^ Fico muito feliz.

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  3. Meu deus!!!! Sem palavras, que texto perfeito.
    Preciso repetir em todas suas postagens, pois é verdade. Você escreve muito, garota!
    Beijos!

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    1. Aninha, minha leitora assídua, agradeço muito seus elogios <3

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  4. Que lindo! Parabéns! Com toda certeza vou comprar seus livros! Seguindo :D bjs
    http://saracavalcantes2.blogspot.com.br/

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